quinta-feira, 12 de novembro de 2020

8 Habilidades fundamentais para as novas gerações de arquitetos

 

8 Habilidades fundamentais para as novas gerações de arquitetos

Este artigo é uma espécie de resumo do livro “The Multi-Skilled Designer: Cognitive Foundation for Inclusive Architectural Thinking”, escrito pelo arquiteto e professor estadunidense Newton D'souza. Apropriando-se da teoria das inteligências múltiplas e de pesquisas psicométricas, D'souza estabelece 8 habilidades que considera fundamental para um arquiteto nos dias de hoje. Os desafios que se apresentam para o nosso futuro próximo são inúmeros e variam em termos de conteúdo, escala e complexidade, exigindo aos arquitetos e arquitetas um vasto repertório de diferentes habilidades. Desta forma é preciso estar consciente que não nos basta uma única habilidade projetual, mas um conjunto tão diverso competências quanto o conteúdo da nossa própria disciplina. É imperativo reconhecermos as nossas diferenças como indivíduos, assim como as distintas necessidades e expectativas dos usuários em relação à um projeto de arquitetura.

Habilidades intrapessoais

Habilidades intrapessoais se referem ao tipo de relação que uma pessoa estabelece consigo mesma e com seus próprios sentimentos. Pessoas com uma forte sensibilidade intrapessoal estão sempre cientes de seus próprios estados de ânimo, seus sentimentos e motivações. Elas incorporam uma espécie de consciência ativa sobre os seus próprios desejos e medos assim como as ajuda a prever mudanças de humor. Quando transpostas à prática da arquitetura, habilidades interpessoais podem ser descritas como (i) a facilidade de desenvolver soluções formais capazes de emocionar as pessoas; (ii) de traduzir ou materializar metáforas e analogias em formas e espaços; e finalmente (iii) a uma sensibilidade para com o seu próprio conhecimento. A aplicação de tais habilidades em projetos de arquitetura podem ser vistas nas obras de arquitetos como Daniel Libeskind e Peter Zumthor.

Habilidades interpessoais

Enquanto as habilidades intrapessoais voltam-se para dentro de si mesmo, as habilidades interpessoais exigem uma melhor compreensão das pessoas que nos cercam. Compreender as formas como as pessoas vivem e se apropriam de nossos projetos, nos permite ter uma profunda consciência das reais necessidades dos usuários assim como das normas socioculturais e dos padrões de comportamento de uma comunidade. Habilidades interpessoais têm a ver com empatia e reconhecimento das necessidades dos outros. Na prática, habilidades interpessoais resultam (i) em uma maior empatia para com as necessidades dos usuários; (ii) na capacidade de engajar-se socialmente; e (iii) na aptidão de trabalhar em equipe. Alejandro Aravena é um arquitetos que esbanja tais habilidades, as quais podem ser encontradas em projetos desenvolvidos por escritórios vinculados à universidades como o Detroit Collaborative Design Center e o Clemson Architecture+Health.

Detroit Collaborative Design Center’s (DCDC) community engagement strategies demonstrates the use of interpersonal skills.  The “Roaming Table” from the Detroit Future City project is a prime example of a tactic used to enter into a dialogue with a community and broaden engagement. The DCDC team constructed a mobile wooden table to take around to public places or meetings throughout the city several times a week for three to four hours, placing it in front of schools, libraries, businesses, bus stops, and other public sites to increase participation. The table alone facilitated one-on-one conversations with approximately 6,000 individuals. © Dan Pitera
Detroit Collaborative Design Center’s (DCDC) community engagement strategies demonstrates the use of interpersonal skills. The “Roaming Table” from the Detroit Future City project is a prime example of a tactic used to enter into a dialogue with a community and broaden engagement. The DCDC team constructed a mobile wooden table to take around to public places or meetings throughout the city several times a week for three to four hours, placing it in front of schools, libraries, businesses, bus stops, and other public sites to increase participation. The table alone facilitated one-on-one conversations with approximately 6,000 individuals. © Dan Pitera

Habilidades suprapessoais

Enquanto as habilidades intrapessoais se referem às nossas próprias emoções e as habilidades interpessoais dependem da nossa compreensão das emoções dos outros, as habilidades suprapessoais são aquelas que nos aproximam de uma compreensão mais profunda da condição humana. Habilidades suprapessoais nos permitem melhor compreender questões relativas a própria existência, como o significado da vida, da morte e o destino da humanidade. Um projeto de arquitetura com qualidades suprapessoais permitem (i) nos conectar com o espaço para além de suas dimensões físicas e espaciais; e (ii) a capacidade de sensibilizar os usuários através de seus processos cognitivos. O uso de habilidades suprapessoais na prática da arquitetura se faz evidente nas obras de Louis Kahn e Zaha Hadid.

Habilidades cinestésicas corporais

Arquitetos com habilidades cinestésicas pensam a arquitetura a partir da experiência corpórea no espaço. Seus projetos de arquitetura transmitem uma noção muito clara de escala humana e portanto, uma intensa sensação de pertencimento para com um lugar ou projeto específico. A consciência do corpo ao habitar um espaço é um ato fundamentalmente cinestésico e, portanto, intrinsecamente conectado a essência da própria arquitetura. Habilidades cinestésicas estão profundamente enraizadas em nossos sentidos, e desta forma, na maneira como percebemos ou “sentimos” o espaço. Habilidades cinestésicas em um projeto de arquitetura podem ser descritas como (i) uma sensibilidade à escala humana; (ii) a consciência do corpo e suas relações com o espaço; e (iii) a capacidade de engajar e aproximar pessoas. Arquitetos que exploram estas habilidades em seus projetos são Steven Holl e Herman Hertzberger.

Habilidades Naturalísticas

Habilidades naturalísticas são aquelas que incorporam uma consciência inata do contexto e da paisagem natural. Isso inclui uma facilidade em identificar e classificar os vários elementos que compõe um terminado ecossistema, como plantas, animais e as relações ecológicas estabelecidas entre eles. Abordagens projetuais naturalísticas propõe um uso mais cuidadoso dos recursos naturais, reduzindo o consumo de energia, preservando e potencializando as características originais da paisagem. Habilidades naturalísticas em um projeto de arquitetura se resumem (i) a uma sensibilidade para com os recursos naturais, a paisagem, a flora e fauna; (ii) a capacidade de simular qualidades formais e funcionais da natureza; e (iii) a resiliência ecológica. Habilidades naturalísticas na prática são evidentes nas obras de Geoffrey Bawa e Chris Cornelius.

Habilidades espaciais

Um arquiteto com habilidades espaciais é aquele que facilmente percebe, adapta e incorpora informações espaciais em seus projetos. Habilidades espaciais permitem com mais facilidade resolver problemas de ordem espacial, incluindo a criação de mapas mentais, o raciocínio espacial, a manipulação de imagens, habilidades gráficas e artísticas entre outras. A espacialidade em um projeto de arquitetura tem a ver com o controle e a manipulação da luz natural, da atmosfera do lugar e das características táteis dos materiais que compõe um projeto de arquitetura. Habilidades espaciais na arquitetura podem ser compreendidas como (i) a habilidade de imaginar e manipular o espaço para além de sua dimensão física e material; (ii) a habilidade de construir narrativas espaciais; (iii) a sensibilidade às características táteis do espaço; e (iii) a capacidade de entender o todo a partir dos elementos que compõe o espaço. Habilidades espaciais são características intrínsecas de obras de arquitetos como Frank Lloyd Wright e Tadao Ando.

Habilidades verbais/lingüísticas

Habilidades verbais/lingüísticas envolvem a capacidade de fixar através da linguagem oral e/ou escrita o pensamento criativo, o qual encontra significado e ordem entre palavras, sons, ritmos e inflexões. Embora o uso de habilidades verbais/linguísticas possa parecer poético por natureza, elas também pode ser utilzidas na vida cotidiana para fins expressivos e práticos. Além de apropriar-se da linguagem como uma ferramenta literal, arquitetos e arquitetas fazem traduzem recursos literários para construir narrativas em um projeto de arquitetura, munindo-os de uma qualidade ficcional. Tais habilidades podem ser descritas como (i) a habilidade de incorporar sintaxes; (ii) a capacidade de utilizar ferramentas verbais para construir narrativas; e (iii) a capacidade de ser persuasivo ao defender ideias e conceitos de um projeto de arquitetura. O uso de habilidades verbais/linguísticas na prática da arquitetura é evidente nas obras de Bernard Tschumi e Maya Lin.

Habilidades lógico-matemáticas

As habilidades lógico-matemáticas envolvem a facilidade de apropriar-se do raciocínio lógico para resolver problemas cotidianos através de um processo de ação e reação. Elas envolvem a capacidade de calcular, quantificar e realizar operações matemáticas/lógicas complexas em um curto espaço de tempo. Arquitetos e arquitetas se utilizam de habilidades lógico-matemáticas para projetar ordem no mundo natural. Embora estas habilidades possam ser encaradas como uma mera resolução de problemas práticos, elas são particularmente valiosas em um mundo orientado pela informação, engenharia e tecnologia. As habilidades lógico-matemáticas em um projeto de arquitetura podem ser definidas como (i) a sensibilidade aos números e geometrias; (ii) a capacidade de lidar com inúmeras possibilidades e variáveis; e (iii) a capacidade de resolver aspectos funcionais e programáticos. O uso de habilidades lógico-matemáticas é algo definidor no trabalho de Le Corbusier e Greg Lynn.

Para resumir, essas oito habilidades aqui apresentadas devem ser consideradas como um menu flexível de possibilidades, a partir do qual, arquitetos e arquitetas podem se apropriar quando confrontados com as complexidades do mundo da arquitetura. Como projetistas, podemos fazer uso dessas habilidades como uma ferramenta de diagnóstico, para examinar nossas próprias habilidades e nos tornarmos sensíveis aos conjuntos de habilidades dos outros. As habilidades são uma janela para a intencionalidade, um lugar desde onde nós, arquitetos e arquitetas, podemos investir nossos recursos para reconhecer as inúmeras capacidades mentais auxiliares das quais podemos nos apropriar. Diferentes habilidades estabelecem uma base para que saibamos lidar melhor com os desafios da contemporaneidade, tornando a nossa prática e também o ensino da arquitetura mais efetivas e principalmente, inclusivas.

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